26 de janeiro de 2011

REFLEXOS DE UMA REVOLUÇÃO

Fui um dos trabalhadores (hoje chamados de profissionais) da Rádio, da qual ainda até hoje não li a verdadeira história descrita com fidelidade, nem tão pouco as condições em que foi transmitida a segunda senha, a “Grândola Vila Morena”.
Disse-te na altura que aquilo não era uma revolução, mas sim um golpe militar anti-guerra colonial. Tinha regressado da Guiné à pouco tempo e lá tinha ouvido alguns discursos do Spínola.
De facto a Rádio Renascença era forte na mobilização dos trabalhadores. Mas estava infestada de todos os tipos de oportunistas de última hora, falsos progressistas, e os controleiros partidários.
Se acompanharmos o percurso de vida dos trabalhadores da emissora que se assumiam como tal de uma forma sincera, verifica-se agora que poucos progressos tiveram nas suas carreiras...mas os outros, hoje são vedetas na comunicação social.
Os acontecimentos que me obrigava a lutas "surdas" com alguns colegas, a situação da Emissora em auto-gestão, mais o desejo de viver os acontecimentos das mudanças, produziam em mim um stress enorme, como hoje se diz.
Também aqui foste a minha companheira e amiga, quando ocupamos o Centro Emissor da Buraca em Benfica, com o apoio da população e um acampamento montado à volta do edifício com trabalhadores ocupantes (alguns... porque outros já tinham desertado, mas apareceram com esse estatuto, depois de o Emissor ser destruído à bomba facilitando o concretizar do 25 de Novembro) a permanecerem lá as vinte e quatro horas.
Ias lá levar-me alguns lanches, roupa lavada e o teu carinho. Apesar das tuas tarefas, da atenção a dar à já nossa menina, e dos conflitos laborais que também já estavam a iniciar-se na empresa em que trabalhavas, com o abandono dos patrões.
Toda esta vivência de uma forma ou outra se reflectia nos nossos comportamentos, às vezes chegavam a confundir os nossos sentimentos. Lembras-te deste Bilhete ?!

Desculpa-me.

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