11 de julho de 2008

APRENDER A NADAR


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Talvês, com os meus oito anos, uma das minhas aventuras de "natação" era ir para casa da minha tia Maria, que ficava muito próximo da casa da minha avó na Rua do Passeio Alegre. Era uma casa antiga (como todas daquela rua), mas esta não tinha electricidade. Recordo-me que era uma casa com muitos recantos e um pouco escura, tinha um grande quintal à frente com um tanque de lavar roupa. Era um tanque enorme. Muitos anos atrás havia em alguns locais tanques de água comunitários, onde as mulheres lavavam a roupa. Portanto eram caixas de água corrente para dez ou vinte mulheres lavarem a roupa.

O da casa da minha tia Maria, era na minha imaginação (ou para o meu tamanho) enormíssimo o que me permitia dar algumas braçadas à "cão", porque ainda não sabia nadar.
Imagina agora um quintal, numa tarde de Verão ou Primavera dentro de água a tomar banho e brincando com tudo que pudesse fazer de barquinhos, num grande tanque, só para mim e... com um cheiro delicioso de uva americana de uma videira que o cobria na totalidade fazendo sombra.
Enquanto isto, a duas irmãs minhas avó e tia sentadas algures à sombra, estavam "sarrotando" quero dizer a conversar e a costurar, fazer meias ou alguma camisola para o inverno.
Havia muitos gatos, mas bom, bom mesmo, era a hora do lanche. Maçãs à fartura, havia lá uma ou duas Macieiras, davam daquelas maçãs um pouco ácidas com muito sumo. E uma caneca de cevada (uma bebida parecida com o café) acompanhando a Sêmea (pão escuro) com marmelada ou manteiga. Isto numa tarde de verão... à sombra, num quintal emanando diversos aromas de plantas, o cheiro a lenha e ao carvão do fogão é difícil de te transmitir as sensações que me causavam, mas diria que todos estes cheiros transmitiam vida, da própria vida das pessoas e dos seus lugares.
Se me tapassem os olhos eu saberia em que casa de quem estava a entrar.
Aquelas uvas caracterizam-se por serem muito doces, distinguindo-se de qualquer outra espécie, mas em excesso provocavam uma tempestade nos intestinos de qualquer criança.
Estarás a pensar: mas um puto de sete/oito anos sozinho num tanque ? Nada de especial, porque as crianças de então não eram tão super protegidas. Muito cedo exercitavam as suas capacidades físicas e de orientação, brincando nos campos e matos, nos jardins, junto ao rio amarravam os barcos pequenos, cedo aprendiam a remar e a nadar, brincavam pelas diversas ruas sem automóveis.
Não quer isto dizer que as crianças daquele tempo andavam abandonadas, pelo contrário estavam vigiados pelos vizinhos. As pessoas nas suas andanças naturalmente reparavam nas crianças dos outros dando atenção aos locais onde estavam.

Vou dar-te três exemplos:
- Ia a correr com outros rapazinhos amigos numa rua e de repente uma voz de mulher que aparecia repentinamente no meu caminho perguntava: "A tua mãe já veio do trabalho ?". Azar eu tinha sempre a minha avó em casa.
- Outra punha-se à minha frente e dizia: "O que andas aqui a fazer ?, vou dizer à tua mãe que andas aqui. Vai para casa.
- Chegava a casa e a minha avó: já te disse que não quero que vás para tal "sitio". Raios como é que ela soube, até nem encontrei ninguém conhecido...E era no mesmo dia.

Estranho... não é meu Neto...?
Já agora, imagina que quando tive a primeira namoradinha "sofri" muito, porque não havia sitio por onde eu passasse que a minha mãe não soubesse e às vezes também antes de eu chegar a casa. Como é que ela sabia que eu tinha passado com uma pequena, numa determinada rua, numa determinada hora ?
Voltando a casa da minha tia. Mesmo que ela não estivesse em casa embora pudesse escalar o portão, não precisava de fazê-lo porque à frente existia (ainda existe) uma fonte muito linda que faz de parede ao quintal e também aí tinha algum espaço para brincar na água.
E muita sorte, porque em frente, era só atravessar a rua, e tinha outros tanques para onde iam as lavadeiras (mulheres que lavavam a roupa das famílias ricas), mas aí não era conveniente porque havia muito sabão na água e elas, as lavadeiras não deixavam.
Não te preocupes, dentro de um ano ou dois estou a nadar no rio Douro como um peixinho.
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P.S. ainda não aprendi a intercalar as fotos no meio do texto, por isso são numeradas no texto.
Foto 1- A tal Fonte, no local da casa da minha tia Maria está um prédio recente. Depois de possivelmente ter caído de velha.
Foto 2, 3 e 4 os tais tanques junto ao rio em diferentes épocas.

2 comentários:

anamar disse...

Difícil será sem dúvida para estas gerações, visualizarem, ainda que palidamente como se vivia...O tempo rodou, de facto, mais de 180º...As realidades nada têm a ver, de facto!
Cumprimentos
Anamar

Rui Amaro disse...

Caro Carlos Filipe
Lindas histórias de avô babado para o seu netinho.
Aquelas imagens da Cantareira (a capital da Foz) que ainda há pouco passei por lá, mas muito diferente do que era, até mesmo assim me fazem recordar velhos tempos!
A lancha das peças (sardinha) denominada "Aliança" do meu avô Zé Colega, amarrada nos antigos tanques de lavar, agora estão encostados a lingueta de Leste. A moça que está isolada era a minha tia mais velha Maria José(Colega) e à proa estão dois mocitos, o meu pai Zé Fernabses e um tal Zé Marujo, que foi remador dos pilotos e morava ao cimo da Benediina, salvo erro rua da Santa Senhorinha.
Até a mim que estou aqui a dois passos, sinto saudades! Que fará O Carlos Filipe, ai pelas Amadoras!
Tudo pelo melhor
Abraço ´
Rui Amaro