11 de abril de 2011

( I ) - SONHOS, VENTURAS E OUTROS QUE TAIS

Uma adolescência "privilegiada" em relação à generalidade da juventude, no afecto familiar que era o amor de minha Avó e de minha Mãe, com a protecção e compreensão dos caminhos que eu trilhava até a pouco depois do 25 Abril, altura posterior que em datas diferentes, também elas iniciaram outro caminho dito eterno.


Somente já adulto, compreendi quanto as sujeitei a grandes sustos e ansiedades, mesmo até duas ou três semanas antes desta data, estando eu felizmente a trezentos quilómetros de distância na R. Renascença em Lisboa. Privilegiado no acesso à cultura, na experiência do contacto com diversas camadas sociais da população que me rodeava. Para quem conhece a Foz do Douro, no Porto, era entre pescadores, marinheiros, operários fabris e a zona aristocrática da burguesia de banqueiros, grandes industriais etç.

                                           (sou o do meio com uma Rola)

Escrever sobre estes pormenores seria muito extenso e não é objectivo agora.
Neste percurso de adolescência até aos dezoito anos sempre me foram transmitidos os valores de meu Avô materno. Marinheiro de coragem e participante em revoltas, e quando em terra, hostil às injustiças. Morreu no mar, sob a bandeira inglesa, quando num "comboio de reabastecimento" seu barco foi bombardeado por um submarino alemão.
Aos dezoito anos (1968), eu estava empenhado em todos os meios culturais ao meu alcance (poucos e perigosamente criados) e que me eram disponíveis.
As longas conversas tidas em não menos longas caminhadas pela marginal junto ao mar, na Foz , até meio das madrugadas, forma de não ser-mos escutados, ajudava-nos a desenvolver as nossas concepções, a nossa forma de ver o mundo, e levar à prática formas de luta e resistência, ao que nos oprimia a cada dia.
A exploração, a guerra e a falta de liberdade.
Nos cafés mais "seguros", na casa de amigos, onde ouvia-mos música mesmo a editada clandestinamente, "filosofava-se" e lia-mos tudo que chegava às nossas mãos, trocava-mos os livros e papeis proibidos e raros que nos chegavam.
Em alguns locais policopiavam-se outros.


Nos finais deste período, a minha integração nas já existentes e criação de novas "comissões culturais" em colectividades, cooperativas e até filarmónicas, tinha como objectivo, promover hábitos de leitura com outra imprensa como Diário de Lisboa, República, Comércio do Funchal, promover troca de impressões sobre os acontecimentos mais ou menos públicos, realizar colóquios com Óscar Lopes , Armando Bacelar, Armando de Castro e outros intelectuais, sobre economia e política mais abrangente. Com músicos de Jazz. Realização de momentos com música (as baladas da época) e peças de teatro como a Guernica de Brecht, que sonorizei. Claro tudo isto sob os olhares da Pide-DGS, que esperava avidamente a presença de "caça grossa" nesses locais.
Com este plafon, chego à condição de Mancebo, nobre designação de carne para canhão.
Novas e mais importantes (individualmente) opções se me colocam.
Desde a deserção, até à permanência nas fileiras. Opções que por muito individuais que fossem, só poderiam ser levadas a cabo, enquadradas e/ou organizadas, face à minha maneira de estar na luta e concepções políticas, Leninista com influencias de Che Guevara, Mariguela e outros da luta revolucionária activa.

(Continua)

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