29 de julho de 2008

MÚSICAS - DANÇAS - INICIAÇÕES II/II

Gostaste de ver e ouvir este tango?, será algo estranho para ti concordo, porém independentemente de gostares ou não, tens de reconhecer o valor da execução da música sem qualquer electrónica a coreografia simples, com arte e não o simples abanar de corpos.
Está bem queres o resto da história.
Estávamos em Maio de um ano, algures por 65/66, tinham começado aquelas tardes de quase verão. É nesta altura que que se vai passear pela avenida, os rapazitos da minha idade começam a procurar as companhias femininas para o verão que se aproxima, e mais imediatamente para os bailaricos do São João.
Ora o teu avô num grupinho maluco de rapazes, lá conseguiu juntar-se a outro grupinho de miúdas com quem passávamos os restos das tardes na avenida até ao Castelo do Queijo, sentando-nos nos bancos do jardim, num misto de brincadeira infantil e o querermos parecer já crescidinhos. Deste grupo os nomes que me recordo são a Joaquina, a Zé, a Anabela e a Adélia.
Não não era a Avó Adélia, embora no próximo Post eu te vá falar sobre esta Adélia e talvês fiques com uma opinião parecida com a minha de que nada acontece na vida fora do "Puzzle".
Estava em casa numa tarde de sol (já não morava no Passeio Alegre tinha mudado para aRua Bela que tu ainda conheceste) bateram à porta a avó Amélia foi à janela e chamou-me dirijindo-se ao meu quarto e diz-me serenamente que estava uma rapariga à porta para falar comigo.
Guilherme se eu tivesse um buraco à minha frente tinha desaparecido.
Era a primeira vez que uma rapariga me tinha ido procurar a casa, nunca tal me tinha acontecido fiquei todo envergonhado perante a minha avó e lá fui à porta.
E quem era senão a Adélia em pessoa e sozinha (o que era mais impressionante) a convidar-me para irmos dar uma volta.
Com alguns dedos de conversa à porta a avó não apareceu junto de mim. Ficou dentro de casa.
Guilherme, esta atitude da avó Amélia, foi uma manifestação de confiança e respeito no neto apesar de criança. Por isso eu admirei e gostei tanto da minha avó Amélia; e a tua avó Adélia também se dava muito bem com ela.
Então devo ter ganho algum sangue frio para a ocasião e fui pedir à avó para poder ir dar uma volta, e sabes que me deixou sair, claro depois das recomendações habituais.
Esta amiga Adélia decididamente era a alegria em pessoa. É difícil fazer o retrato para ti, que nasceste à tão pouco tempo. O clic dará mais ou menos isto: uma miudinha com a minha altura, da mesma idade que eu, magrinha, morena, cabelo curto, mini-saia, e meias de rede (que à pouco tempo esteve na moda outra vez). Sempre alegre, desafiadora, não aparentava medo de nada.
Creio que no dia seguinte ou dois, já estava novamente a passear na sua companhia. Lembro-me que conseguia-mos falar sobre coisas diferentes, dos nossos gostos e desagrados. E estranhamente não ia-mos passear para a Avenida, mas sim para aquelas ruas interioriores, largas com árvores de cada lado... as ruas dos Palacetes das "pessoas bem".
Sabes qual era o divertimento dela ??? Esconder-se. Sim esconder-se, tinha um prazer enorme em ver-me andar à procura atrás das grossas árvores ou nas reentrâncias dos portões das casas.
Isto devia-se ao facto que ela sendo do interior da Foz, conhecia melhor os locais dos nossos jogos.
E com estes passeios chegamos à altura do São João. E eu sem saber dançar ou então com vergonha de dançar, como queiras.
Na Foz havia muitos bailaricos, Nevogilde, Túnel do Monte da Luz, Paraíso, Sobreiras, e outros lugares, sendo claro o mais importante o da Cantareira no Passeio Alegre.
Mas a menina à noite só podia ir para o baile de Novogilde, porque era para lá que iam os irmão mais velhos e morava ali perto.
Imagina, primeiro que eu estava a dar as minhas primeiras saídas à noite, segundo que tinha que me deslocar quase para o outro extremo da Foz para ir ter com ela, terceiro porque parecendo que adorava dançar o que é que eu ia lá fazer?.
Mas ao contrário do que pudesse parecer, ainda hoje estou para saber como é que ao som das musicas do Tom Jones, Adamo, Sandi Shaw a menina que cantava descalça, e duma música que eu gostava particularmente "ah ah..?..clawn", fui parar a um recatado canto de uma santíssima Capela a dançar, com a minha amiguinha Adélia, ensinou-me a onde colocar as mãos, o primeiro, segundo passo, frente trás, para o lado e lá fiquei naquele ritmo. Estava a tentar recordar a música mais tocada na aprendizagem. Se me lembrar volto cá e escrevo em negrito ok? Delilah do Tom Jones e também outra da Mary Hopkins.
Embora na altura parecesse, pelo menos para mim, que estávamos escondidos do mundo não estávamos, porque havia pessoas a passarem em direcção do bailarico, mas como de facto deviam ir com mais atenção com o que se iam deparar, não reparavam em nós.
Devo-te dizer que a Capela embora um pouco afastada do largo onde se realizava o baile quase que constituía um limite. A frente dava para o baile, e eu estive nas traseiras no canto da nossa esquerda na fotografia. Bem... Amplia a fotografia para veres melhor....
Talvez à quarta ou quinta música o convite foi outro, não podíamos ficar ali todo o tempo e então tinha que ir lá para o meio com ela, ainda bem que o Tom Jones tinha uma música lenta.. lá consegui controlar a timidez, dancei todo o tempo que lá estive e quando fui embora, já estava desejoso do dia seguinte.Afinal era bom dançar.
Foi assim que aprendi e poucas vezes dancei com mais alguém à excepção da tua Avó Adélia com quem dancei muitas vezes no aconchego da nossa casa.
Claro que na Guiné quando me era veladamente permitido, (porque aquilo que parece uma activa dança local, pode ser por vezes uma cerimónia séria) lá entrava eu no Batuque, mas aí não estava mais que a libertar a pressão daquilo que vivia lá.
Esta amiga enquanto convivi com ela num namoro muito indefinido e rebelde com crises de identidade, foi sempre uma óptima amiga e sua tia que me reservo no seu nome, foi sempre muito nossa amiga compreensiva e excelente educadora para a época.
Sem pretender transformar o blogue em discoteca vou colocar as duas canções próprias para consumo na época.
Meu neto de outra forma dificilmente saberás que esta concepção de música existiu.

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