29 de janeiro de 2011

FLORES


Desde sempre, sabia que gostavas de flores e elas foram a minha "arma secreta".
Nos nossos primeiros tempos, às vezes comprava-te uma flor, gesto que fui perdendo com o decorrer do tempo.


E um dia disseste qualquer coisa como, "nunca mais me ofereceste uma flor" e a partir daí até não deixei de te dar uma flor no meu regresso a casa. Sempre que me cruzava com algum muro com rosas ou outra flor a sobressair ou um canteiro acessível, eu sempre colhia uma flor para ti. De cada vez que entrava em casa com uma na mão, recebia-la como se fosse das primeiras vezes e mesmo antes de me beijares já estavas invariavelmente a cortar o caule e a colocar numa fina jarra com água. Sabia que gostavas de Jarros, mas dificilmente encontrava e só à poucos anos quando estivemos algum tempo na zona de Sintra, consegui satisfazer-te com Jarros.
Clima propicio para esta planta, era fácil encontrar em qualquer pequeno canteiro público e eu trazia para teu prazer e também preocupação porque algum condomínio desses canteiros podia manifestar-se. Mas eu não me preocupava porque era por amor e não por destruição como frequentemente observava. Sempre gostei de ver, embora não desse a atenção devida, a tua estratégia de teres plantas em nossa casa, que não se propiciava nada para o cultivo delas. Era engraçado o teu estratagema, utilizavas plantas que se desenvolviam e multiplicavam em água e daí que tu distribuías por vários recipientes parecendo um pequenino jardim. Creio que a flor foi como que o nosso ícone, nunca perdi a oportunidade de te dar uma por qualquer meio e vou continuar a dar-te até deixar de ser possível.

(anos 80)

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