Foram dez ou quinze dias de ansiedade, porque havendo tanta mulher a telefonar para a Rádio por razões várias como; a radio novela "Simplesmente Maria", os Discos Pedidos, os namoricos com a malta, éramos umas vedetas!... Somente tu é que não telefonavas como tinha ficado levemente insinuado quando nos conhecemos.
Eu bem avisava os colegas telefonistas que estava à espera da chamada de uma pessoa com o teu nome e a minha ânsia era tanta, que às vezes infantilmente pensava que me estavam a esconder o teu possível telefonema.
Com um misto de vaidade (abunda entre os homens em grupo) felicidade, desejo de te ver outra vez, lá fui contando o meu "encontro com o amor" a alguns colegas que como é hábito teceram comentários descabidos do que eu estava a sentir, ninguém estava a perceber.
E então o diálogo tornava-se de surdos e jocoso, sem valor, que não me ajudava em nada, mais a par de estúpidos "avisos".
Finalmente um dia telefonaste, foi uma conversa curta, a perguntares-me como estava, aquelas frases de quem não sabe por onde começar...e eu também não sabia. Na despedida disse-te que ia passar uma música para ti dum grupo chileno (pedi ao Luís Filipe Martins locutor, para passar uma faixa, não me lembro qual, do grupo Atualpa).
Não sei se fiquei melhor ou pior depois do telefonema.
Após a saída de turno da rádio e com mais sossego, percebi que estava com uma luzinha lá distante que se aproximaria ou não conforme tu o desejasses. Para mim não deixavas de ser "duas pessoas" e isso induzia-me um sentimento de respeito, receio (?).
Passado algum tempo, mais uns largos dias, sem saber se devia manter a esperança de que algo acontecesse, cheguei à radio para o turno da tarde, como sempre cheia de reboliço devido à situação revolucionária que se vivia. Era um barafunda de técnica, noticiários, entrevistas, reportagens essas coisas todas que depois vieste a conhecer por dentro.
Não me recordo como, fui informado que alguém tinha mandado entregar um Ramo de Flores, para três de nós, entre eles eu. Não era só para mim... e fui à sala dos Noticiários passado um bom tempo e de facto vejo um pequeno ramo de flores muito composto, com um pequenino envelope com três nomes, sendo que o nome do meio era o meu, Carlos Filipe e a seguir a respectivo endereço da RR.
Dentro, um "cartão de visita" de estudante com o seguinte texto:
"Amigos. Quando estou triste, gosto muito de oferecer flores. Um abraço para vocês. Adélia"
Lembras-te destes conteúdos ?. Pois... foi muito bonito, mas também foi como se me tivesses dado com uma marreta na cabeça.
Então eu é que te conhecia, eu é que gostava de ti, eu é que fiquei de ser contactado, e mandas flores para três pessoas.
Pensei muito, mas não compreendia, não podia ser que não tivesses reparado que te fiquei com afecto desde aquela tarde na Feira do Livro.
Mesmo depois de já viver-mos juntos, só passados alguns meses é que me explicaste a razão daquela opção dos três nomes.
Era que não conhecendo de todo a minha posição na rádio nem os meus relacionamentos, tiveste prudência para não causar-me algum problema, mas que as flores eram mesmo para mim.
E de facto durante estes anos sempre conheci em ti essa prudência e sensatez, perante os acontecimentos importantes das nossas vidas.
Desculpa não ter compreendido o "código" da tua missiva.
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