12 de abril de 2011

CULTURA E PROTECÇÃO



Decorria a Feira do Livro, na Avª da Liberdade. Ainda estava sedento de ler e conhecer o que havia de novo que tivesse sido publicado durante a minha permanência na Guiné.
Fora das horas do trabalho na Rádio e como estava hospedado muito perto, numa pensão na Pçª dos Restauradores a feira era o meu local preferido.
Estava uma tarde bonita de sol, creio que era um sábado ou domingo, havia muita gente.
Gostava de ter outra tarde igual... livre da guerra, da opressão, com alegria, recém-independente economicamente, e o tipo de trabalho de que sempre gostei.
Tinha ainda os reflexos da Guiné com a minha estadia hospitalar. Mas nessa tarde no meio da minha busca de novos livros, todos os resquícios do passado, todas as ansiedades do meu inicio de vida como jovem homem se evaporavam.
Durante estes anos me interroguei algumas vezes, se foste tu ou a criança, que era a tua filha que "apelaram" a todo o amor que eu tinha para dar um dia a alguém.
Recordo quando na Feira do Livro, eu ia a descer a Avª no passeio interior do lado dos automóveis e o meu olhar capta de repente uma menina pequenina a caminhar muito ligeira, também pelo passeio abaixo. Observo-a e de repente no meu entender ela estava aproximar-se muito do limite do passeio e corri para ela para a deter. Olhei para os lados para ver quem estaria com a criança e tu estavas mesmo ali ao meu lado, mesmo juntinha a mim.
Creio que me senti acabrunhado. Afinal... havia alguém tão atento ou mais que eu. Porém não tinha reparado em ti, a Mãe estava presente.
Lembro-me de ter oferecido à menina algo da feira, que não me recordo.
Não sei exactamente do que conversamos (talvez da revolução e livros) e caminhamos juntos o resto do percurso com a Susaninha no nosso meio até aos Restauradores onde nos separamos. Tu foste para o comboio e eu para a Rua Capêlo, para a Radio.
Quem eras tu ?! Só fiquei sabendo que trabalhavas numa Editora, tinhas uma filha com três aninhos, residias na linha de Sintra, e deixaste-me a impressão seres de "esquerda" e... mais nada.
Por minha vez não te terei dado muitos elementos, pela "complexidade" do meu percurso de vida, que afinal era tão complexo como a teu, não o sabendo nós nesta altura. Ficaste com o essencial de mim, não te disse muita coisa, quanto mais não fosse porque olhava para ti e eras uma jovem bonita que me dava o impulso de atrair a tua atenção, mas ao mesmo tempo olhava para a Susaninha e já te via como uma mulher mais madura com outras responsabilidades.
Foste, o MEU ENCONTRO COM O AMOR que me acompanhou sempre em todos os momentos bons e maus.
Quando eu estava a começar a "estrada da vida" como adulto, inspiraste-me respeito mesmo na tua simpatia, digamos que este casual encontro contigo me provocou receio de tentar sequer namoriscar além de não deixar de pensar na menina e em ti como uma só pessoa.
Ficou combinado nas despedidas que me contactarias. Sabias o meu nome e o número da rádio, era fácil.
Até breve meu amor.

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